Ontem, hoje e eternamente
Quando eu era criança, não tinha amigos. Os poucos colegas que eu tinha, eram momentâneos. Lembro-me que fiquei de castigo por causa de uma colega do Jardim de Infância, porque ELA estava fazendo coisas obscenas com bonecas, na minha casa. Além de ter apanhado, claro.
Amigos imaginários? Sempre tive, acho que isso é uma coisa normal. Mas eu tinha muitos, vivia quieta, solitária, no meu canto. Isso durou até quando meus pais adotaram um gato, eu melhorei.... Mas ele fugiu, fiquei assim de novo. Minha mãe comprou um poodle, e meu pai adotou um vira-latas, mas não conseguia melhorar. Acho que só fiquei "bem" depois que adotei uma gata e ela teve a sua primeira ninhada... Mas mesmo assim, ainda tinha meus amigos imaginários e era desse jeito estranho, acho que os gatos só me ajudaram a ficar mais feliz.
Naturalmente, eu era uma criança triste. Meu avô - a unica pessoa que realmente importava comigo - morreu quando eu estava sofrendo bullying na escola, ou seja, a minha vida ficou uma merda. Meus pais estavam se divorciando, meu irmão tinha fugido de casa, minha avó estava doente (acreditem ou não, eu me considerava culpada por isso. Pedi para ela fazer café, ela escorregou e a água fervente caiu em cima dela. É, eu sou um desastre), meu pai sumiu com meus gatos... Pode parecer algo pequeno para você, mas você conseguiria enfrentar tudo isso na infância? Eu não.
E foram nas férias daquele ano conturbado que uma outra pessoa nasceu dentro de mim. Eu amadureci rápido com todas as coisas ruins que tinham acontecido comigo. Virei a Juliana que todos vêem.
Andar olhando para baixo é um costume meu, tenho medo de olhar nos olhos das pessoas. Falo baixo, gaguejo, coro, fico paralisada, meu estômago embrulha. Até falando com alguém da minha família, falo rápido. No Centro Espírita, uma entidade disse que é porque eu tenho medo que as pessoas riam do que eu estou dizendo. Confesso que é verdade, mas falando rápido ou não, eles sempre vão rir de mim.
Apesar de tudo, não quero mudar. Se eu mudar, não vou ser eu. Vou ser só mais uma adolescente fútil que não se preocupa com nada. Isso não combina comigo. Sou vegetariana, não uso produtos testados em animais, nunca uso/usei roupas de couro,meus banhos são rápidos, eu reciclo... Tudo o que pessoas normais deveriam fazer. Só não faço trabalho voluntário porque meu pai é um maldito preconceituoso e não deixa.
Sou uma pessoa estranha. Não sei se a minha infância refletiu na minha adolescência ou algo assim, mas isso foi o que acabou com a minha vida.
A estrada é longa, mas eu já não consigo mais caminhar. Todos os dias, olho para uma maldita corda no meu armário, e penso "Será que é hoje que eu irei usar isso?", mas nunca é. Tenho medo da dor, medo de algo der errado. Medo de ninguém sentir a minha falta. Medo de ninguém ler a minha carta de Despedida. Medo de ter sido inútil na vida das pessoas. Medo de não ter feito a minha parte. Medo do ódio, vamos combinar, meus parentes vão me odiar por ter feito essa escolha...
Eu já não suporto isso. Já pedi ajuda a Deus, já fiz tudo o que deveria ter feito... Mas essa dor não ameniza. Só cresce, cresce. O meu corpo está ficando pequeno para tanta dor.
Queria ser feliz, mas acho que eu não nasci para isso. Devo ter nascido para sofrer, ficar sentada no Bando de Reservas da vida. Até minha mãe fala que eu sou inútil. Eu queria que alguém sentisse a minha falta. Queria que alguém ficasse ao meu lado quando eu preciso. Não quero um namorado, amor é a coisa mais idiota que existe. Quero um amigo! Mas parece que eu não tenho chances nem para isso. Parece que você só tem o direito de ter um amigo se for popular ou algo assim.
Se Deus existe, por que é que Ele esqueceu de mim? Eu fiz algo tão errado assim na outra Encarnação? Qual é o meu problema?!
Alguém me dá uma luz? :'/