segunda-feira, 8 de novembro de 2010

WEB-NOVELA: Caindo para a vida - Capítulo 3

Capitulo 3: Buraco de verdades


Milagrosamente, eu não tinha quebrado nada. Com alguma dificuldade, eu consegui ficar em pé. Ergui a minha calça até os joelhos, eu estava com um corte horrível, mas não consegui sentir dor alguma.
Minha mochila tinha caído comigo,ainda bem. Eu abaixei para pega-la e olhei no celular. Eu pensei imediatamente em ligar para os bombeiros ou sei lá, para me tirarem do buraco, mas eu ouvi passos. Me abaixei, poderia ser um tarado o sei lá. Mesmo me abaixando, aquilo não surtira efeito algum, já que o buraco não era tão fundo. 
Você está bem? – Ouço a voz de um garoto. Me ferrei legal agora ¬¬ Olho para cima e vejo um rosto conhecido. É o novato na sala de aula.
– Sim, eu tô ótima – Eu digo,pegando a minha mochila e jogando para cima, que caiu justamente onde eu queria. Coloquei o pé em uma planta ( já que mesmo com a perna cortada, eu não estava com dor) e segurei as mãos em outras, dei impulso e fui para fora. Foi fácil sair, assim como entrar.
Fiquei em pé e peguei minha mochila, o garoto estava com os olhos arregalados.
– Que foi? – eu disse
– Você...está ótima
– Como eu disse...– respondi caminhando para fora do parque, mas o garoto continuou andando ao meu lado.
– Como você pode estar sem nenhum osso quebrado, eu ví você caindo!
– Bem...o buraco não era muito fundo
– Mas você é uma garota! – revirei os olhos e disse para ele
– Vai mesmo ficar me seguindo?
– Me desculpe. Eu entrei na sua turma hoje, sou o Kevin – Ele estende a mão – Você é a Alba, certo?


Sim, sou. Como sabe o meu nome? – Pergunto. Se ele é novo na escola, não sabe o meu nome, eu sou ignorada por tudo e todos. Estranho
– Bem, as pessoas falam de você – Arqueio minha sobrancelha e faço a minha melhor cara de “Como assim?”
– Bom, todos falam de você. Dizem que não sabem como você consegue ficar tanto tempo sem falar nada com ninguém – eu reviro os olhos e digo:
– Bem, talvez as pessoas devessem me conhecer antes de dizer algo sobre mim – ele sorri.
– Sim, talvez devessem. Mas você deveria...dar uma chance as pessoas. –
– Quando as pessoas pararem de ser superficiais, talvez eu aumente minha zona de amizades na escola – Bufei
– Você é bonita, ia ser popular rapidinho – Kevin disse
– Você diz isso porque é novo no colégio. Dou apenas duas semanas para tu mudar de ideia! – Disse com a voz mais alta – Bom, eu fico aqui. Obrigada – Disse pegando o meu molho de chaves na bolsa.
– Eu tenho certeza absoluta que não vou mudar de ideia tão cedo. – Ele disse se aproximando de mim. – Você pode ser mais do que imagina, Alba. Mas se quer ser assim pelo resto do ano letivo, tudo bem. Mas nunca esqueça dessa conversa, e das próximas que teremos – Ele disse baixo, como se fosse algo só para eu ouvir.
Virei a chave no portão e abri a porta. Quando cheguei em casa, tratei logo de ligar o computador. Entrei no Orkut, Twitter e no MSN, já fazia um tempo que não entrava nesses OFFS. Eu acesso diariamente, mas sempre no bom e velho fake, meu vicio. Eu sempre fiz questão de usar somente o fake, eu morro de vergonha do profile da minha OFFA. As pessoas dizem que isso é besteira, mas eu não acho.
Eu me sinto feia, gorda, ridícula. Mas as pessoas me dizem que eu sou bonita. Eu nunca acreditei nisso. Ao contrário da Duda, ao ouvir um elogio eu não fico me achando. Muito pelo contrário, eu acho que estão zoando de mim, sei lá. As vezes eu acho que tenho depressão. Minha vida é um saco, um saco mesmo.
É tão monótona que dói, eu nem tenho amigos perto de casa para me fazer companhia. Achei estranho o Kevin vir falar comigo. Ele é bonitinho,então nunca iria falar com uma pessoa como eu. Eu até posso ser bonita, mas eu sou excluída totalmente, e isso faz com que poucas pessoas falem comigo.
Levantei da poltrona azul-marinho do computador e fui até a lavanderia pegar álcool e depois para o banheiro pegar papel higiênico. Ergui a calça e sentei no sofá vermelho da sala, me surpreendendo com o machucado. Era um corte horrível, que ia da coxa até o joelho, nas duas pernas. Apesar de estar assim, passei o papel com álcool e não senti nada. Como eu já disse, eu não tenho sentimentos. A dor para mim é sempre insignificante... Eu tinha medo sim de me machucar, como a maioria das pessoas. Mas quando isso está prestes a acontecer, eu penso “Bom, eu não vou sentir nada mesmo, e não vou morrer. E se morrer, ninguém vai chorar por isso, eu não vou sentir nada, então que se foda”.
Isso é comum?Acho que não, mas apesar de tudo, é assim que eu me sinto. E eu não vou chorar, nem me desculpar pelo o que eu sou. Eu prefiro ser uma pessoa sem nenhum sentimento do que uma garota idiota apaixonada pelo garoto popular da escola ¬¬




Terminei de passar o álcool nas duas pernas, e então fui guardar as coisas. Eu teria que dar uma ótima desculpa para meu pai por estar matando aula. Ele era ausente e tudo mais, só que a vizinha fofoqueira fazia a cabeça dele para ele pegar no meu pé.
Meu pai...A quanto tempo eu não converso com ele? A ultima conversa civilizada com ele foi no ano passado. Ano passado ele até se importava comigo, não ficava tanto na igreja. Mas agora...Parece que ele prefere me dar todo o salário dele em roupas do que ficar perto de mim. Mas eu não dava a minima, eu prefiro que ele fique fora de casa um ano do que conversar com ele.
E eu não duvido nada que ele fique mesmo por um ano fora. Sabe, eu estava totalmente proibida de procurar um trabalho, mas eu queria, só para passar menos tempo em casa. E não depender do meu pai para nada...Eu tenho anemia desde os meus oito anos, e ele nunca cuidou de mim, sequer comprava remédios. Eu lembro até hoje das palavras dele: “Anemia?! Isso é coisa de gente com frescura porque não quer comer! Eu não vou gastar meu dinheiro suado com isso. Se quer comer, come. Se quer morrer, morra!”. Sim, eu tinha só oito anos, mas ele nunca se importou comigo.
Quando minha mãe foi sair da maternidade comigo, ela foi de ônibus, porque meu pai estava na igreja e não ia nos buscar. Durante o tempo que ela ficou comigo no hospital, ele nunca foi me ver. Mas quando uma cachorra dele estava doente, ele passou a noite inteira no veterinário. Bom, eu nem cheguei a conhecer a cachorra.
Entrei no meu OFF, e me assustei com o que vi

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